sábado, 9 de agosto de 2014

Solidão

São 17:30 de um sábado frio e cinza. Um silêncio dentro de casa e lá fora um passarinho canta.

Meu marido está em casa, trabalhando. E minha filha, de 4 meses dorme - finalmente!

Eu... Estou aqui, mas é como se não estivesse... depois de suprir as necessidades de todos, sozinha, exausta, cabelos oleosos porque não deu tempo de tomar banho e também porque o aquecedor não está funcionado direito e talvez nem venha a funcionar - apesar de eu ter passado cada instante do pouco tempo livre que eu consigo ter durante o dia de ontem tentando ligar para a empresa de manutenção. Quer dizer, todo o tempo, não. Tive que dividir esse tempo com a busca por uma nova empregada, já que a minha está indo embora.

Sim, eu tenho uma empregada. Das 8h às 17h. Ela cuida da limpeza e da comida. Eu administro a casa e cuida da minha filha. Parece pouco, eu nem imaginava, mas um bebê de 4 meses exige todo o meu tempo. E é um bebê saudável e posso até dizer que bonzinho!

Hoje, nesse momento eu me sinto como se eu não existisse. Eu queria refazer a minha unha porque não gostei do que a manicure fez. Eu queria lavar meus cabelos, eu queria dormir um pouco, talvez sair (correndo!), ir à academia, ao shopping, sei lá, queria não me sentir anestesiada, anulada por todas as obrigações e esse sentimento de impotência e solidão que está tomando conta de mim.

Ser mãe é maravilhoso. Eu adoro minha filha, me ocupar dela, mas por mais que a gente faça tudo com muito amor, chega uma hora em que precisamos de um descanso, de um lazer, de um tempo pra nós. De um cuidado, de um momento "individual". Tudo que eu queria era um banho - longo, quente, tranquilo. E não de 5 minutos, correndo, porque meu marido está cansado, quer tomar banho também ou quer jantar ou quer assistir algo e a Liz está resmungando, ou quer trabalhar.

Ser mãe é colocar as necessidades de toda a família a frente da sua.

Às vezes me dá uma raiva! O aquecedor quebra e eu sou cobrada: "por que você não ligou pra empresa de manutenção". Minha filha chora e eu ouço um grito: Tá tudo bem aí? Por que ela está chorando"? Eu peço pra cuidar um minuto enquanto eu preparo o banho e ouço reclamações: "Vai demorar muito? Estou ocupado". E aí, de noite, quando eu penso que vou ter um bom momento, tem uma luta I-M-P-E-R-D-Í-V-E-L do "Brutamontes" x "Brucutu" no UFC.

Posso estar sendo muito egoísta. Ou não. Ou sim, não sei. Estou confusa, culpada e um pouco triste também. Porque o dia está cinza, eu estou cansada e eu queria um banho e o aquecedor quebrou, meu marido está trabalhando e eu sinto como se não existisse. Pelo menos minha filha dormiu, finalmente.

Escureceu. São 18:04. Minha filha ainda dorme, meu marido ainda trabalha. Apesar do alívio por ela estar dormindo, sinto saudade dela acordada, brincando, rindo. E minha esperança de ter um sábado divertido vai se esgotando a cada hora que passa. Tudo por causa do dia cinza...

Se tem alguém que me lê - e eu sei que tem, pelo número surpreendentemente grande de acessos no blog - me diz, será que eu sou tão horrível por me sentir assim tendo uma filha linda, saudável, que dorme a noite toda e é tão boazinha de dia? Ou todo mundo sente isso eventualmente?




Um comentário:

  1. Não, definitivamente você não é uma monstra ou menos mãe por se sentir assim . Essa transição de menina para mulher é muito dura, vivíamos num tempo só nosso, de vontades nossas, comíamos ou não, dormíamos ou não, saíamos ou não. ..tudo a nosso próprio tempo e vontade e agora nosso tempo não é mais nosso.
    Mas o clichê "tudo vale a pena" é uma verdade absoluta! Apesar de toda doação nunca fomos tão completas em nossas vidas!

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